
Cidade de quase 4.000 habitantes celebra devoção à Nossa Senhora da Abadia, quinta festa religiosa com mais público no país
O município de Romaria tem uma população estimada em 3.596 habitantes, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesta época do ano, no entanto, sua população é multiplicada por dez: cerca de 40 mil romeiros desembarcam diariamente na cidade do Triângulo Mineiro para pagar promessas e prestar devoção à Nossa Senhora da Abadia. Durante os 15 dias, são quase um milhão de pessoas transitando pelo santuário local.
Neste ano, principalmente, o município deve receber muito mais peregrinos do que o esperado – nos últimos dois anos, os festejos foram cancelados em função da pandemia de Covid-19. Em 2020, o Jubileu de 150 anos foi comemorado em 2019 com transmissões virtuais. As caravanas de romeiros já começaram a chegar à cidade desde o dia 1º e devem confirmar Romaria no ranking de quinta maior festa religiosa do país. No último final de semana, o santuário reuniu cerca de cem mil pessoas. “Cerca 40 mil pessoas passam a morar na cidade até o dia 15”, conta o padre Márcio Antônio Resende Ruback, reitor do Santuário de Nossa Senhora da Abadia. A maioria se hospeda em casa de parentes, moradores, nas redondezas ou nas cinco pousadas da cidade. Um espaço, o Recanto dos Romeiros, também acolhe os mais vulneráveis. Oito pontos de apoio são montados na BR-365, que liga à cidade a Uberlândia, para acolher os peregrinos, formando uma “fila indiana” na rodovia.
ORIGEM DA DEVOÇÃO
Nossa Senhora da Abadia é um dos títulos atribuídos à Virgem Maria. A devoção surgiu na abadia do Bouro, em Braga, Portugal, por volta do ano 883, e trazida para o Brasil através dos portugueses. Ele se instalaram em Muquém em Goiás. Em 1869, foi construída uma capela em Água Suja, rebatizada de Romaria. A cidade cresceu em torno da construção da capela erguida em devoção à santa. Foi Padre Eustáquio, que viveu em Romaria de 1925 até 1935, o responsável pela construção do atual santuário.
Em Romaria, além das caravanas de romeiros, mais de 20 grupos de cavalgadas e 50 carros de boi, antigas tradições do município, participam das celebrações. Foi em um carro de boi, conta padre Márcio, que a imagem da santa chegou à região. “A missão da mãe é agregar os filhos e do padre é levar a seu rebanho as mensagens de seu filho Jesus. Essa é uma festa de acolhimento”, destaca o pároco. Os peregrinos também cumprem suas promessas de diversas maneiras: a mais comum, segundo o padre, é confeccionar mantos para serem colocados aos pés da santa.
PROGRAMAÇÃO
Até o dia 15, três a quatro missas são celebradas diariamente. As filas para tocar os pés da santa são quilométricas. Com dois andares, o santuário tem capacidade para até mil fiéis. No dia da Assunção de Nossa Senhora (15), os rituais começam a meia-noite, com missas celebradas de duas e duas horas, e se encerrando com celebração campal, procissão luminosa e coroação de Nossa Senhora. Uma encenação contará com participação de atores locais interpretando Jesus, Maria e José, grupos de balé de Uberlândia e Belo Horizonte e a subida ao topo da igreja da imagem da santa.
ARCANJOS
Em frente ao templo católico, pinturas da capela do santuário e casa paroquial foram recuperadas e a praça foi ornamentada com um obelisco de 15 metros de altura com a imagem de Nossa Senhora da Abadia no topo. Esculturas de 2,60 m e três toneladas dos arcanjos Gabriel, Miguel e Rafael foram esculpidas em concreto armado e granito pelo artista Carlos Eduardo Pietá A proposta, segundo o reitor do santuário, é instalar mais 12 anjos no ano que vem em homenagem à cultura popular e às tradições locais.
Os novos anjos homenagearão, entre outros símbolos, o café, os escravos, os peregrinos, as cavalgadas, as folias de reis, os carros de boi e o Sagrado Coração de Jesus. No dia 31 de julho, para homenagear a santa, motociclistas desfilaram pelas ruas do município; no último dia 7 foi a vez dos ciclistas. Nesta quarta-feira (10/8), cerca de 50 carros de boi fazem romaria, e no sábado 13/8) acontece o leilão de gado da santa.
Por Paulo Campos / O Tempo
