
Ambos doadores regulares, o gesto ganhou um significado ainda maior quando Júlio Cesar, pai de Ivan, adoeceu e passou a necessitar de transfusões mensais
Há cerca de dez anos, Ivan, de 46 anos, doa sangue regularmente. Ele manteve a prática seguindo o simples desejo social de ajudar pessoas que necessitam de uma transfusão para sobreviver, sem imaginar que, hoje, entre aqueles beneficiados com seu gesto estaria seu pai, Júlio Cesar, de 77 anos, justamente quem o inspirou.
“Meu pai sempre foi doador de sangue e isso, sem dúvida, fez surgir em mim a vontade de fazer o mesmo. Hoje é ele quem precisa”, afirma Ivan. Júlio Cesar foi diagnosticado com mielodisplasia no início de 2022. A doença, que em seu caso não tem cura, requer transfusões mensais de sangue para que o paciente tenha mais qualidade de vida.
Seu médico, o hematologista Rodrigo Santucci, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que a medula do paciente parou de produzir as células necessárias para que o organismo tenha sangue suficiente, fator que o torna dependente das doações de sangue mensais para sobreviver.
DE DOADOR À PACIENTE
O caso do pai de Ivan expõe dois lados de um mesmo problema: os baixos estoques de sangue nos hemocentros do país.
Segundo levantamento realizado pela farmacêutica Abbott em 2021, doar sangue não faz parte da rotina de pelo menos 48% da população e 54% dos entrevistados aptos à doação nunca doaram sangue.
A pesquisa apontou que apenas 19% daqueles que responderam o estudo doam sangue regularmente. Já o Ministério da Saúde estima que, em todo o país, apenas 1,9% são doadores regulares.
O gesto, totalmente seguro, pode salvar até quatro vidas por vez, e não apresenta qualquer risco à saúde do doador. Conforme a pesquisa da Abbott, na maioria dos casos, a falta de doadores de sangue se deve ao medo e/ou à falta de informação.
Dr. Rodrigo, que também é diretor de Relações Institucionais da Hemomed, instituto que atende a Rede de Hospitais São Camilo SP, explica que este é um dos principais objetivos das campanhas realizadas pelos bancos de sangue de todo o país. “Nós precisamos falar cada vez mais sobre o tema, a fim de sensibilizar a população para a situação daqueles que tanto necessitam deste ato para viver”, destaca.
Ele frisa que, atualmente, são realizadas cerca de 600 transfusões de sangue todos os meses na unidade Mooca da Rede de Hospitais São Camilo SP e que, para manter os estoques adequados às necessidades desses pacientes, são necessárias inúmeras ações de mobilização de doadores ao longo do ano.
O médico reforça que, para ser doador de sangue no Brasil, qualquer pessoa com idade entre 18 e 69 anos, pesando mais de 50Kg e em boas condições de saúde, poderá se apresentar em um dos bancos espalhados pelo país. Adolescentes a partir de 16 anos também podem doar, desde que cumpram os requisitos e apresentem a autorização dos responsáveis. “Doar sangue é muito fácil e, ao mesmo tempo, um ato poderoso. Toda vez que faço minha doação, me sinto realizado. Espero que cada vez mais pessoas experimentem essa sensação”, ressalta Ivan.
Em reforço à fala do filho de seu paciente, o hematologista faz um apelo: “Precisamos ir além das campanhas emergenciais, pois, sem o doador, nós não somos nada. Somente o hábito regular da doação é que será capaz de salva vidas”.
Com a doença sob controle graças às transfusões, Julio Cesar diz que passou a se sentir melhor e mais disposto com o início do tratamento. “Enquanto eu estava saudável, ficava muito feliz em saber que meu sangue ajudaria alguém a viver, hoje sou eu que preciso dessa ajuda e sou muito grato a cada pessoa que tem possibilidade de fazer a doação”, finaliza.
ONDE DOAR?
A Rede de Hospitais São Camilo conta com posto de coleta permanente na Unidade da Mooca, localizada à Av. Alcântara Machado, 2.576. O horário de funcionamento é das 8h às 16h, de segunda a sexta-feira e durante dois sábados por mês, das 8h às 12h.