INSERÇÃO DE ABELHAS EM CAFEZAIS PODE AUMENTAR PRODUTIVIDADE

Com aumento da produtividade e da qualidade do café a receita anual do arábica pode aumentar até R$ 22 bilhões
Estudo realizado por cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil investiga o efeito da inserção de colônias de abelhas manejadas em fazendas com cafezais convencionais. O trabalho de campo, realizado em fazendas de Minas Gerais e de São Paulo, teve como foco o rendimento, a qualidade e o valor de mercado do café arábica.
Os resultados indicam que a polinização assistida aumentou a produtividade e a qualidade do café, o que, consequentemente, pode elevar a receita anual do arábica em até R$ 22 bilhões.
A presença das abelhas introduzidas aumentou a produtividade em 16,5% nos cafezais, passando de 32,5 para 37,9 sacas por hectare. Já a qualidade do café, avaliada pela nota sensorial da bebida, aumentou em 2,4 pontos, promovendo a classificação de grãos de regulares para especiais em algumas fazendas.
Segundo o pesquisador da Embrapa e um dos líderes do estudo, Cristiano Menezes, os resultados mostram o potencial da integração entre o manejo de polinizadores e a cafeicultura de larga escala. “O uso de abelhas manejadas demonstra uma clara oportunidade de ganho econômico, ao mesmo tempo em que contribui para uma agricultura mais sustentável e eficiente”, afirma.
O salto de qualidade elevou o valor da saca em 13,15%, o que representa um ganho de US$ 25,40 por saca com a inserção das abelhas nos cafezais. A pesquisa indicou que a polinização assistida pode gerar impactos econômicos significativos na cafeicultura, tornando o manejo de abelhas uma ferramenta poderosa para melhorar a produtividade e a rentabilidade dos cafezais.
A pós-doutoranda da Embrapa e também autora do estudo, Jenifer Ramos, considera que a pesquisa oferece dados robustos para fundamentar políticas agrícolas que integrem sustentabilidade e alta produtividade. “O potencial dos polinizadores vai além do aspecto agrícola, afetando também o meio ambiente e a sociedade. Essa prática melhora a qualidade do agroecossistema e gera benefícios econômicos que abrangem toda a cadeia produtiva”, explica.
O engenheiro-agrônomo e produtor rural à frente da Facanali Cafés, Gustavo José Facanali, relata sua experiência positiva com a polinização assistida por abelhas. Ele cultiva 120 hectares em São Paulo e no Sul de Minas e inicialmente duvidava da eficácia da técnica, uma vez que a flor do café se autofecunda em mais de 80%. Ao participar de um experimento, os resultados foram surpreendentes. “Nas áreas onde as abelhas foram introduzidas, a produtividade aumentou 17%, de 110 para 128 sacas por hectare. Com o preço atual do café, isso representa um ganho de R$ 27 mil por hectare”, explica Facanali.
POLINIZAÇÃO ASSISTIDA TAMBÉM É OPORTUNIDADE PARA A APICULTURA
A adoção em larga escala da polinização manejada representaria uma excelente oportunidade para a apicultura no País. Seriam necessárias cerca de 6 milhões de colmeias de abelhas africanizadas para cobrir todos os cafezais de arábica no Brasil, considerando a densidade utilizada no estudo de quatro colmeias por hectare. Para as abelhas nativas, o número de colmeias seria ainda maior – cerca de 15 milhões.
Para o fundador e CEO da AgroBee, startup que conecta criadores de abelhas com produtores rurais, conhecida como Uber das abelhas, Guilherme Sousa, a polinização assistida em culturas como o café representa atualmente o maior potencial produtivo sustentável a ser explorado na agricultura brasileira. “Essa prática não só otimiza a produção, mas também contribui para a conservação da biodiversidade, evidenciando que a inovação agrícola pode ser uma aliada da sustentabilidade”, avalia.
A pesquisa foi realizada entre 2021 e 2023 nas principais regiões produtoras de café arábica no Brasil. Foi analisada a introdução de colmeias de abelhas africanizadas (Apis mellifera) na produção de café, comparando os resultados com áreas onde a polinização era realizada apenas por insetos silvestres.
A saúde das colônias de abelhas nativas sem ferrão expostas a um dos inseticidas sistêmicos mais utilizados no controle de pragas da cultura, o tiametoxam, também foi acompanhado pelos cientistas. Colaboraram para o estudo a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a AgroBee, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Natural England e a Eurofins.
CONFIRA OS PRINCIPAIS DESTAQUES DA PESQUISA
A classificação de grãos passou de regulares para especiais em algumas fazendas, agregando valor ao produto.
O salto de qualidade elevou o valor da saca em 13,15%, o que representa um ganho de US$ 25,40 por saca.
O uso do defensivo agrícola tiametoxam, amplamente aplicado nas lavouras de café, não afetou a saúde das colmeias, desde que respeitadas as recomendações técnicas.
A integração entre o manejo de polinizadores e a cafeicultura de larga escala tem impactos positivos também na maior sustentabilidade ambiental das lavouras.
Rodrigo Moinhos / Diário do Comércio
(Com informações da Agência Gov)
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