Artigo: cafeicultura deve se planejar contra ameaças reais

O Conselho Nacional do Café (CNC) marcou presença na FEMAGRI e na Fenicafé 2025, eventos promovidos, respectivamente, pela Cooxupé e pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA). Durante as programações, o CNC participou de reuniões estratégicas com o presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, o vice-presidente Osvaldo Bachião Filho (Osvaldinho), o diretor de Marketing da cooperativa, Jorge Florêncio, a diretora-executiva da COOCACER, Eliane Cristina Barbosa Cardoso, o presidente da ACA, Cláudio Morales Garcia, e o presidente da ACA, Mário Watanebe. Também estiveram presentes diretores e membros dos conselhos diretor e fiscal das instituições. As ocasiões proporcionaram um diálogo direto com diversos líderes cooperativistas e produtores rurais, fortalecendo os laços institucionais e a atuação conjunta em prol do desenvolvimento da cafeicultura nacional. Nos dois eventos participaram presidentes de cooperativas, associações e entidades, além de líderes do setor cafeeiro.
O objetivo foi ouvir atentamente as avaliações e considerações sobre a política cafeeira atual, bem como compreender as perspectivas e preocupações em relação ao futuro da cafeicultura no Brasil. As opiniões colhidas foram as mais diversas possíveis — e é exatamente essa pluralidade que reforça o entendimento de que os preços do café devem ser avaliados individualmente por cada produtor, levando em conta seus custos de produção, as oportunidades oferecidas pelo mercado e o nível de renda que deseja obter com seu produto.
Ao CNC, cabe a responsabilidade de oferecer informações técnicas e de mercado que sirvam de base para essas decisões, sem, no entanto, influenciar diretamente na tomada de posição dos produtores quanto ao melhor momento ou estratégia de comercialização. Nesse contexto, o Conselho tem trabalhado de forma contínua pela atualização do parque cafeeiro nacional e pelo aprimoramento dos levantamentos de safra. O objetivo é garantir a publicação de dados confiáveis, que possam ser utilizados como referência segura e oficial nas discussões e no planejamento setorial.
Os números recentemente divulgados mostram certa coerência no que se refere às safras anteriores de países como Vietnã e Colômbia — cerca de 30 milhões de sacas para o Vietnã e entre 14 e 15 milhões para a Colômbia. No entanto, em relação à safra 2024/2025 no Brasil, o CNC entende que há divergências relevantes nos dados disponíveis. Com base em levantamentos próprios, o Conselho defende que as estimativas devem estar ancoradas em uma realidade crível, sobretudo para que sirvam de base na formulação de políticas públicas adequadas.
Caso os números oficiais apontem para uma produção muito elevada, será necessário buscar políticas governamentais que evitem a concentração de oferta, o que pode resultar em queda nos preços. Há várias opções possíveis para mitigar esse risco. Se, por outro lado, os números forem baixos ou compatíveis com a realidade observada, não há motivo para preocupação — nesse cenário, o setor estará gerando renda de forma sustentável para os produtores.
Além da produção, o CNC tem reiterado a importância da pesquisa técnico-científica como ferramenta essencial para a perenidade e competitividade da cafeicultura nacional. Continua urgente o investimento na Embrapa, nas empresas estaduais de pesquisa, bancos de germoplasma, fundações e universidades, entre outras. São essas instituições que desenvolvem cultivares mais resistentes às adversidades climáticas, como temperaturas elevadas e escassez hídrica, bem como variedades mais precoces e produtivas – resistentes a pragas e doenças -, fundamentais para garantir produtividade e redução de custos.
Ameaças internacionais ao protagonismo brasileiro
Entre as ameaças observadas pelo CNC, destaca-se a crescente atuação de países e blocos econômicos como o G7, que destinará cerca de 400 milhões de euros à produção de café na África. A Itália, por meio da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) na Etiópia, além de países como Honduras – através do Instituto Hondurenho do Café (IHCAFE) – e Colômbia também vêm realizando elevados investimentos em pesquisa, com a alegação de buscar “diversidade de origem”. No entanto, o que se observa é uma movimentação estratégica para aumentar a oferta global de café, causando desequilíbrio entre a oferta e a demanda, pressionando os preços para baixo e afetando diretamente os principais países produtores — como o Brasil. Diante desse cenário, o CNC faz um alerta: ao invés de ampliar áreas de produção em novas regiões, o mais sensato é renovar os cafezais existentes, investindo na melhoria da produtividade, qualidade e, consequentemente, na redução dos custos por saca produzida.
Instabilidade de mercado e novos desafios globais
Com uma estimativa de receita bruta de R$ 123,28 bilhões em 2025, o café continua sendo um dos pilares do agronegócio brasileiro. Entretanto, novas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos impõem incertezas ao setor. No momento, é prudente aguardar os desdobramentos dessas medidas para avaliar seu real impacto sobre o café e o agro como um todo, com reflexo nos principais países consumidores. As negociações, entretanto, estão sendo conduzidas com inteligência e diplomacia por parte do nosso governo, o que nos permite manter certa expectativa positiva quanto aos resultados.
Sustentabilidade: prioridade inegociável
Por fim, o CNC destaca que a ampliação das ações de sustentabilidade deve ser uma prioridade na nossa agenda. A comunicação dessas práticas — como, quando e para quem comunicar — é uma tarefa que deve ser conduzida de forma estratégica junto ao mercado consumidor, seja ele americano, europeu, asiático ou do Oriente Médio. Todos os elos da cadeia têm seu papel, mas é essencial reconhecer a importância do consumidor final: aquele que valoriza o prazer de saborear um café de qualidade, produzido com respeito às pessoas, ao meio ambiente e às boas práticas sociais. Projetos como o “Programa Café Produtor de Água”, idealizado pelo CNC, são exemplos concretos desse compromisso com a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.
O Produtor de Água é desenvolvido nas cooperativas associadas ao Conselho Nacional do Café, com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), das prefeituras municipais, da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB – Sescoop), do Banco Sicoob, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG).
Neste esforço, as empresas estaduais de assistência técnica, responsáveis pela gestão de recursos hídricos, e as universidades, com seu papel na formação e pesquisa, são fundamentais. O futuro da cafeicultura brasileira depende da união de esforços entre produtores, instituições e governo — com estratégia, responsabilidade e visão de longo prazo.
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